Novos valores das bolsas já serão pagos no mês de março; as bolsas de mestrado e doutorado, que não tinham qualquer reajuste desde 2013, terão variação de 40%
Ao longo de 2023, mais de 10 mil novas bolsas serão implementadas - Foto: Ricardo Stuckert
Adecisão do Governo Federal de reajustar as bolsas para o ensino superior está sendo comemorada por estudantes e professores universitários do país. A biomédica Leticia Maria da Silva Antônio, doutoranda em Farmácia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), avaliou a decisão como muito positiva, representando uma conquista importante para pós-graduandos. "É muito tempo esperando por isso. Esse aumento, além de favorecer quem já está na pós, vai proporcionar que mais alunos sejam atraídos para continuarem com seus estudos acadêmicos", disse.
Letícia é bolsista pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Ela lembra que muitos alunos precisaram se deslocar de outros estados e não tinham condições financeiras de sobreviveram com os valores antigos das bolsas, visto que é exigida dedicação exclusiva. Vários alunos, segundo a biomédica, acabavam seguindo para o mercado de trabalho em detrimento da carreira acadêmica.
Para ela, o cenário agora é outro: "todos ganham, os alunos, os programas de pós e a sociedade". Leticia, que fez seu mestrado também como bolsista, acredita que mais pessoas se sentirão interessadas pelo "mundo da pesquisa". A bolsista é filha de uma empregada doméstica e de um técnico em laboratório e mora na Baixada Fluminense, no Rio de Janeiro.
Sentimento semelhante é o da neurocientista e professora Claudia Figueiredo, da Faculdade de Farmácia da UFRJ. Em virtude dos baixos valores das bolsas de pós-graduação e iniciação científica, muitos alunos se sentiam desmotivados. "Essa situação estava favorecendo uma elitização do estudo. A universidade é para todos e, com essa decisão, ganha a força humana da pesquisa", sublinha. A professora é bolsista de Produtividade do CNPq, na área de Biomedicina. Hoje, orienta cerca de 18 alunos entre mestrado, doutorado e iniciativa científica. "Temos potencial para mais orientandos, o que acreditamos que irá acontecer daqui para frente", acrescenta.
A CIÊNCIA DE VOLTA – Para o presidente da Associação Brasileira de Pós-graduandos (ANPG), Vinícius Soares, o anúncio do reajuste das bolsas representa um primeiro passo para incentivar e atrair muitos talentos para a vida acadêmica. "Após 10 anos sem reajustes, estávamos todos muito ansiosos por isso. O Brasil volta à luz da ciência", confessou, ao identificar a ocorrência de uma grande evasão de alunos por conta dos valores baixos. Atualmente cursando o doutorado em Saúde Coletiva, ele está pleiteando uma bolsa. A ANPG reúne 1,3 milhão de estudantes.
Premiado na categoria de Ciências Exatas e da Terra, como bolsista de Iniciação Tecnológica do CNPq, Felipe André Zeiser (da Universidade do Vale do Rio dos Sinos – Unisinos) faz doutorado sanduíche em Computação Aplicada na Alemanha, com bolsa da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). Para ele, o aumento no valor das bolsas traz para os pesquisadores um alívio e um aceno para maior valorização da ciência.
"Isso vai permitir também aos pesquisadores de dedicação exclusiva uma maior segurança, o que reflete na qualidade dos estudos desenvolvidos, permitindo ao Brasil uma maior relevância no cenário mundial", argumenta. Outro importante impacto, segundo Zeiser, será na maior qualificação dos profissionais, que vão agregar maior valor aos serviços e aos produtos serem desenvolvidos no Brasil no futuro.
DEPOIMENTOS
Rai Ceriaco
bolsista da Capes no mestrado em Linguística Aplicada pela Universidade de Brasília (Unb). É filho de um repositor e de uma gerente de supermercado
"Esse é um momento de celebração. Pois posso me dedicar aos estudos com uma preocupação a menos, em relação a como me manter financeiramente. Pois quero me capacitar, continuar na carreira acadêmica, desenvolver pesquisa de alto nível e assim devolver meus conhecimentos para a rede pública de ensino, para a sociedade. É muito gratificante para mim, que não teria oportunidade de avançar no mundo acadêmico se não fosse a bolsa. Sou o segundo da família a concluir um ensino superior."
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Wadja Feitosa dos Santos Silva
bolsista do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (Pibic), do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq)
"Esse reajuste foi extremamente necessário, visando o ponto de vista de um estudante de graduação que se dedica, integralmente, à iniciação científica. Com o aumento do custo de vida, o reajuste das bolsas de iniciação científica proporciona a inclusão para os estudantes de todo o país. A questão financeira é decisiva na permanência de um estudante de graduação na Iniciação científica. Essa decisão governamental comprova a valorização do desenvolvimento de trabalhos científicos e impulsiona a realização de novos projetos de pesquisa que visam o desenvolvimento tecnológico. Finalmente, os estudantes que dedicam seu tempo e esforço para o avanço tecnológico do país serão recompensados. O momento é de comemoração!"
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Normanda Araújo de Morais
bolsista em Produtividade e Pesquisa (PQ-1C/CNPq). Docente da Universidade de Fortaleza (Unifor). Psicóloga formada pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Mestre e doutora em Psicologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)
"Como parte da comunidade científica brasileira, recebo com alegria a oficialização do reajuste no valor das bolsas de iniciação científica, mestrado, doutorado e pós-doutorado. É inaceitável que seguíssemos há tanto tempo sem qualquer reajuste. Discentes da iniciativa cientifica e da pós-graduação são a base de um sistema nacional, que alimenta e faz acontecer a pesquisa de qualidade em nosso país. Não existe pesquisa de qualidade sem investimento devido em recursos humanos de qualidade, assim como não existe desenvolvimento nacional sem investimento na Ciência. As bolsas representam uma distinção importante a pesquisadoras e pesquisadores que desenvolvem projetos inovadores, de reconhecido mérito científico e carreiras que se destacam em suas áreas, seja pelo quantitativo de publicações, número de citações, experiência na formação de recursos humanos e, sobretudo, pelo impacto e relevância social do que fazem. Esse anúncio traz à autoestima de todos nós – estudantes e pesquisadores – a ideia de que a Pesquisa e a Ciência voltam a ser valorizadas em nosso país. E que talvez nós, tão sofridos pelos desmontes dos últimos anos, podemos voltar a, efetivamente, acreditar e 'realizar' dias melhores, sendo devidamente reconhecidas e reconhecidos pelo que fazemos, cotidianamente. Mesmo nos dias mais difíceis que vivemos, teimamos em acreditar que 'Ciência salva vidas' e que 'não há desenvolvimento, independência e soberania nacional sem Ciência'. Investimento em Ciência é raiz de desenvolvimento, antes que consequência de países desenvolvidos. E, como tal, deve ser tratada como política de estado."
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Tais Gratiere
farmacêutica, bolsista de Produtividade em Pesquisa pelo CNPq na Universidade de Brasília (UnB). Coordenadora adjunta da Área de Farmácia da Capes. Representante dos jovens cientistas da Academia Brasileira de Ciência (ABC)/em>
"Uma decisão mais do que necessária. Havia uma defasagem significativa e é notória a baixa procura pela carreira científica, pelo desincentivo, além da crise que passamos, pelo descrédito da ciência, vivido nos últimos anos. Esperamos que os incentivos à carreira científica continuem, em todos os níveis. O país precisa de pessoas motivadas. A base da pesquisa são os jovens pesquisadores que estão na bancada, aprendendo sobre o funcionamento da pesquisa, como os mestrandos e doutorandos que estão realizando os mais diversos experimentos."
Ao longo de 2023, mais de 10 mil novas bolsas serão implementadas - Foto: Ricardo Stuckert
Adecisão do Governo Federal de reajustar as bolsas para o ensino superior está sendo comemorada por estudantes e professores universitários do país. A biomédica Leticia Maria da Silva Antônio, doutoranda em Farmácia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), avaliou a decisão como muito positiva, representando uma conquista importante para pós-graduandos. "É muito tempo esperando por isso. Esse aumento, além de favorecer quem já está na pós, vai proporcionar que mais alunos sejam atraídos para continuarem com seus estudos acadêmicos", disse.
Letícia é bolsista pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Ela lembra que muitos alunos precisaram se deslocar de outros estados e não tinham condições financeiras de sobreviveram com os valores antigos das bolsas, visto que é exigida dedicação exclusiva. Vários alunos, segundo a biomédica, acabavam seguindo para o mercado de trabalho em detrimento da carreira acadêmica.
Para ela, o cenário agora é outro: "todos ganham, os alunos, os programas de pós e a sociedade". Leticia, que fez seu mestrado também como bolsista, acredita que mais pessoas se sentirão interessadas pelo "mundo da pesquisa". A bolsista é filha de uma empregada doméstica e de um técnico em laboratório e mora na Baixada Fluminense, no Rio de Janeiro.
Sentimento semelhante é o da neurocientista e professora Claudia Figueiredo, da Faculdade de Farmácia da UFRJ. Em virtude dos baixos valores das bolsas de pós-graduação e iniciação científica, muitos alunos se sentiam desmotivados. "Essa situação estava favorecendo uma elitização do estudo. A universidade é para todos e, com essa decisão, ganha a força humana da pesquisa", sublinha. A professora é bolsista de Produtividade do CNPq, na área de Biomedicina. Hoje, orienta cerca de 18 alunos entre mestrado, doutorado e iniciativa científica. "Temos potencial para mais orientandos, o que acreditamos que irá acontecer daqui para frente", acrescenta.
A CIÊNCIA DE VOLTA – Para o presidente da Associação Brasileira de Pós-graduandos (ANPG), Vinícius Soares, o anúncio do reajuste das bolsas representa um primeiro passo para incentivar e atrair muitos talentos para a vida acadêmica. "Após 10 anos sem reajustes, estávamos todos muito ansiosos por isso. O Brasil volta à luz da ciência", confessou, ao identificar a ocorrência de uma grande evasão de alunos por conta dos valores baixos. Atualmente cursando o doutorado em Saúde Coletiva, ele está pleiteando uma bolsa. A ANPG reúne 1,3 milhão de estudantes.
Premiado na categoria de Ciências Exatas e da Terra, como bolsista de Iniciação Tecnológica do CNPq, Felipe André Zeiser (da Universidade do Vale do Rio dos Sinos – Unisinos) faz doutorado sanduíche em Computação Aplicada na Alemanha, com bolsa da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). Para ele, o aumento no valor das bolsas traz para os pesquisadores um alívio e um aceno para maior valorização da ciência.
"Isso vai permitir também aos pesquisadores de dedicação exclusiva uma maior segurança, o que reflete na qualidade dos estudos desenvolvidos, permitindo ao Brasil uma maior relevância no cenário mundial", argumenta. Outro importante impacto, segundo Zeiser, será na maior qualificação dos profissionais, que vão agregar maior valor aos serviços e aos produtos serem desenvolvidos no Brasil no futuro.
DEPOIMENTOS
Rai Ceriaco
bolsista da Capes no mestrado em Linguística Aplicada pela Universidade de Brasília (Unb). É filho de um repositor e de uma gerente de supermercado
"Esse é um momento de celebração. Pois posso me dedicar aos estudos com uma preocupação a menos, em relação a como me manter financeiramente. Pois quero me capacitar, continuar na carreira acadêmica, desenvolver pesquisa de alto nível e assim devolver meus conhecimentos para a rede pública de ensino, para a sociedade. É muito gratificante para mim, que não teria oportunidade de avançar no mundo acadêmico se não fosse a bolsa. Sou o segundo da família a concluir um ensino superior."
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Wadja Feitosa dos Santos Silva
bolsista do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (Pibic), do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq)
"Esse reajuste foi extremamente necessário, visando o ponto de vista de um estudante de graduação que se dedica, integralmente, à iniciação científica. Com o aumento do custo de vida, o reajuste das bolsas de iniciação científica proporciona a inclusão para os estudantes de todo o país. A questão financeira é decisiva na permanência de um estudante de graduação na Iniciação científica. Essa decisão governamental comprova a valorização do desenvolvimento de trabalhos científicos e impulsiona a realização de novos projetos de pesquisa que visam o desenvolvimento tecnológico. Finalmente, os estudantes que dedicam seu tempo e esforço para o avanço tecnológico do país serão recompensados. O momento é de comemoração!"
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Normanda Araújo de Morais
bolsista em Produtividade e Pesquisa (PQ-1C/CNPq). Docente da Universidade de Fortaleza (Unifor). Psicóloga formada pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Mestre e doutora em Psicologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)
"Como parte da comunidade científica brasileira, recebo com alegria a oficialização do reajuste no valor das bolsas de iniciação científica, mestrado, doutorado e pós-doutorado. É inaceitável que seguíssemos há tanto tempo sem qualquer reajuste. Discentes da iniciativa cientifica e da pós-graduação são a base de um sistema nacional, que alimenta e faz acontecer a pesquisa de qualidade em nosso país. Não existe pesquisa de qualidade sem investimento devido em recursos humanos de qualidade, assim como não existe desenvolvimento nacional sem investimento na Ciência. As bolsas representam uma distinção importante a pesquisadoras e pesquisadores que desenvolvem projetos inovadores, de reconhecido mérito científico e carreiras que se destacam em suas áreas, seja pelo quantitativo de publicações, número de citações, experiência na formação de recursos humanos e, sobretudo, pelo impacto e relevância social do que fazem. Esse anúncio traz à autoestima de todos nós – estudantes e pesquisadores – a ideia de que a Pesquisa e a Ciência voltam a ser valorizadas em nosso país. E que talvez nós, tão sofridos pelos desmontes dos últimos anos, podemos voltar a, efetivamente, acreditar e 'realizar' dias melhores, sendo devidamente reconhecidas e reconhecidos pelo que fazemos, cotidianamente. Mesmo nos dias mais difíceis que vivemos, teimamos em acreditar que 'Ciência salva vidas' e que 'não há desenvolvimento, independência e soberania nacional sem Ciência'. Investimento em Ciência é raiz de desenvolvimento, antes que consequência de países desenvolvidos. E, como tal, deve ser tratada como política de estado."
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Tais Gratiere
farmacêutica, bolsista de Produtividade em Pesquisa pelo CNPq na Universidade de Brasília (UnB). Coordenadora adjunta da Área de Farmácia da Capes. Representante dos jovens cientistas da Academia Brasileira de Ciência (ABC)/em>
"Uma decisão mais do que necessária. Havia uma defasagem significativa e é notória a baixa procura pela carreira científica, pelo desincentivo, além da crise que passamos, pelo descrédito da ciência, vivido nos últimos anos. Esperamos que os incentivos à carreira científica continuem, em todos os níveis. O país precisa de pessoas motivadas. A base da pesquisa são os jovens pesquisadores que estão na bancada, aprendendo sobre o funcionamento da pesquisa, como os mestrandos e doutorandos que estão realizando os mais diversos experimentos."
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